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Cinema de Arquitetura, Cidades contemporâneas e Afetos

equipe
André Costa (coord.)

O cinema de arquitetura tem se detido recentemente em questões urbanas tratadas até pouco, preferencialmente, pelo campo da crítica urbana e pelo estudo das cidades. Questões como a exclusão sócio-espacial; a perda do direito ao espaço público; as novas formas segregadas de morar; a especulação imobiliária, o consequente aniquilamento da memória dos lugares e sua substituição pelas novas tipologias capitalistas têm se tornado debates frequentes do cinema de arquitetura de ficção. O documentário de arquitetura vem operando denúncias bastante explícitas dessas problemáticas urbanas, no entanto, são os filmes de ficção que abordam tais questões por meio de encenações contemporâneas mais próximas da expressão dos afetos, isto é, por meio de imagens, narrativas e personagens que fazem entrever sensibilidades “menos da ordem da representação e mais próxima da abstração que os afetos exigem para povoar a imagem [...] o afeto é um fenômeno abstrato e energético que circula pela imagem (Deleuze)”.

Esta pesquisa, iniciada com a tese “Afetos no cinema de Karim Aïnouz”, busca compreender como as transformações sócio-espaciais colocadas pelo hipercapitalismo neoliberal desdobram-se em uma fragmentação da experiência da cidade,  em um descolamento dos corpos dos sujeitos das ruas e no desencontro com o Outro, fenômenos traduzidos nos filmes por meio das encenações silentes dos personagens, por meio do estranhamento do estar na cidade e por meio das “atmosferas” (Gil) dos espaços violentamente transformados. A investigação tem como objetivo aprofundar uma definição conceitual para a noção de pertencimento – o afeto arquitetônico por excelência – e sondar por meio das imagens do cinema em que medida as mudanças na paisagem urbana das metrópoles produzem sentimentos como o medo da rua (Bauman), o cansaço (Han), a incomunicabilidade (Antonioni) – “maus afetos”, no sentido espinosista, que diminuem a alegria e a potência de agir dos corpos.

 

Do ponto de vista metodológico, é fundamental, antes, sistematizarmos formas de análise fílmica que respondam aos seguintes questionamentos: como olhar a cidade, o espaço e suas transformações nos filmes: por meio da gramática analítica do mise-en-scène do cinema narrativo clássico (Bordwell) ou por meio de outros estilemas atualizados pelo cinema contemporâneo? Como perceber afetos, que são fenômenos da ordem da não-representação, sendo encenados nos filmes? Que tipo de linguagem podemos utilizar para traduzi-los?

filmes de referência

Transeunte (Brasil, 2011) - Eryk Rocha

O homem das multidões (Brasil, 2014) - Cao Guimarães

O céu sobre os ombros (Brasil, 2011) - Sérgio Borges

Trabalhar cansa (Brasil, 2011) - Juliana Rojas e Marco Dutra

 

bibliografia

ARANTES, Otilia Beatriz Fiori; VAINER, Carlos; MARICATO, Ermínia. A cidade do pensamento único: desmanchando consensos. Petrópolis: Vozes, 2002.

BAUMAN, Zygmunt. Confiança e Medo na Cidade. São Paulo: Editora Zahar, 2009

BORDWELL, David. Figuras traçadas na luz: a encenação no cinema. Campinas: Ed. Papirus, 2008.

BRINKEMA, Eugenie. The forms of affect. Durham; Londres: Duke University Press, 2014.

DELEUZE, G. A imagem-tempo. São Paulo: Editora Brasiliense, 2007.

ESPINOSA, B. Ética. Belo Horizonte : Autêntica Editora , 2007

GIL, Inês. A atmosfera como figura fílmica. ACTAS DO III SOPCOM, Vol. 1. Universidade da Beira.

HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. Petrópolis: Vozes, 2015.

JOBST, Marko; FRICHOT, Hélène. Architectural Affects after Deleuze and Guatari. Londres: Routledge, 2020.

LEITE, Rogério Proença. Localizando o espaço público: Gentrification e cultura urbana. Revista Crítica de Ciências Sociais, 83, 2008.

MORAES, Reginaldo C. Neoliberalismo: de onde vem, para onde vai. São Paulo: Senac, 2001.

MONTANER, Josep; MUXÍ, Zaida. Arquitetura e Política: Ensaios para Mundos Alternativos. Barcelona: Gustavo Gili, 2014.

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