
Programa Monumenta: o Patrimônio Cultural como Recurso para o Desenvolvimento?
doutorado
2015 - 2019
Defesa em 9 set. 2019
autora
Ana Clara Giannecchini
orientadora : Elane Ribeiro Peixoto
apoio
Período sanduíche em Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra
orientadores - Nancy Duxbury e Paulo Providência
publicações

Vista de Praça da UFS, Campus Laranjeiras, 2019. Foto de Ana Clara Giannecchini.

Vista de praça interna da UFS, Campus Laranjeiras, 2019. Foto de Ana Clara Giannecchini.

Vista de Praça da UFS, Campus Laranjeiras, 2019. Foto de Ana Clara Giannecchini.
Nas décadas de 1990 e 2000, R$ 290 milhões foram gastos em um grande programa governamental para a preservação das cidades históricas brasileiras que, além de lograr um grande número de ações de restauração de imóveis e requalificação de espaços públicos em 26 municípios, investiu em atividades de dinamização econômica, formação, educação, difusão e fortalecimento institucional federal e municipal. Contando com a expertise e o financiamento em 50% do Banco Interamericano de Desenvolvimento, a grande pretensão foi agir sobre o recorrente desafio do financiamento da preservação, prometendo uma ação sustentada de desenvolvimento local, via governos municipais e em parceria com o setor privado. Esta tese buscou compreender os limites do modelo utilizado, cuja promessa de sustentabilidade não chegou a se concretizar. Uma análise qualitativa, embalada em farta pesquisa documental no Acervo do Programa Monumenta em Brasília e entrevistas em profundidade com participantes, trouxe à tona matizes do discurso oficial, criado em contexto neoliberal e de Reforma Gerencial do Estado, apropriado posteriormente por vertentes oriundas do Movimento da Reforma Urbana. Considerando a complexidade e ambiguidade do programa, foram confrontadas suas intenções e métodos com a implementação nas cidades, especialmente as de menor porte, entre as quais dois casos considerados de sucesso, Goiás (GO) e Laranjeiras (SE). Os resultados mostraram que, em meio a desistências e grandes dificuldades, o Monumenta falhou por não considerar a realidade dos contextos urbanos, culturais e sociais sobre os quais atuou. Houve uma intenção deliberada de deixar em segundo plano as tensões da realidade para implantar um modelo pré-definido, a despeito das substantivas revisões. O trabalho questiona a validade da ideia da sustentabilidade e aponta outros hiatos maiores a serem enfrentados, como a ação institucional de gabinete e o primado do especialista. Sustenta-se a necessidade de superação da dicotomia material-imaterial e da busca por um equilíbrio que tenha no horizonte a democratização do processo de preservação, a função social do patrimônio e a responsabilidade ética dos agentes públicos.